Penso em Deus como um ser vivente acima de todas as coisas. Ou talvez tenha sido esse o modo de ver que me encobriram na vida. Mas certa de que Ele seja um teor transparente e translúcido eu estou; sem dúvida. Aquela força dita vital que abrange o ser e o estar de qualquer coisa - Fé - talvez. Eu que não sou transparente, tenho tanta dificuldade de assimilar essa luz. Trêmula, ela me golpeia. É feroz o toque maciço em suas veredas, e sua imensidão me faz perpetuar o tormento. Incapacidade absoluta.
E o pecado que é para mim bem menos que o estado do homem, que tanto se assimila a capacidade de transcender força, canção... O homem, esse tal ser também transparente que se reinventa e perpetua tão facilmente! O homem das feridas, todas tão capazes, e avassaladoras. E se reinventa e tanto aparenta com esse Deus.
Meu texto neste instante se desfragmenta. É que, minha razão hoje, por falta do que sentir, está abalada. E a caligrafia arrastada é apenas voz de ligação entre a corrente ingênua que paira como névoa branda, envolvendo meu pesar.
Justo hoje, que parei para pensar no pecado e seu Deus. Logo hoje que proclamei minha verdade insana e à parte dessa crença que confunde e abala. Justo hoje. Mas que confusão!
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
domingo, 28 de novembro de 2010
Alma
Enquanto a noite espreitava meu ser
O céu condizia atento ao meu clarão e meu suspiro
Meu corpo se desfalecia a cada palavra
E o arrepio que se findava em mim
Transpunha a imensidão da madrugada
A voz era o sopro
E o sopro me fazia canção o querer e o estar daquela hora
E se eu fosse aquela voz
Eu pairava sobre mim
Como ponto de partida sem chegada
Como água furtiva
Ou sal, essência e vontade – melodia
Alma. Calma. Alma.
Corpo Fechado
Sim! O meu viver é contentamento
E minhas horas são diretrizes sagradas de compaixão
Meu suor é o lamento uniforme que exaspera o vento
Enquanto minhas palavras... Estas são vivas e fortes fora de mim!
E meu corpo, a foice de sentimentos adornados de caos
A mente conturbada de cinzas, singela... Perfeita mortal
Os ossos, a cal marmórea da palavra
Os membros, partes delgadas alheias de mim
Enquanto meu sopro – Espírito, tácito, humano, real
Será em mim como eu nele, a carne viva e sagrada das esperas.
Os olhos, eles são dignos de tocar-me a rigidez do corpo
As pálpebras se abrem, compartidas e serenas
As unhas, os pelos... A boca
Nua, crua, exuberante de alegria num regozijo torturador!
O seio, o peito, a pele, as costas...
Ambos seres de vida e morte dentro de mim
Visíveis, estáticos... Imparcial!
Meu corpo,
Fechado;
Meu ser,
Recolhido;
Meu viver,
Mordaz;
Meu sabor,
Inodoro;
Meu calor...
Dentre tantos, a palavra.
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
A ti mulher, cuidado!
Cuidado mulher
Cuida de tua roupa
Cuida de tua coxa
Cuida de tua mão
Cuida, pois o mundo é louco
E o teu cuidado já é auto perdão
Cuida do cabelo
Cuida da pele adormecida
Cuida mulher do ventre rasgado
Pois o ser contrário te fere
Cuida para que não cuide a ferida
Cuida mulher
Porque de ti vem o calor
E o veneno
Cuidado mulher.
Cuidado.
Cuida mulher, do sopro.
Cuida da vida
Cuida da fera e da palavra
Cuida da fogueira que há em ti
Cuidado com a véspera
Ela pode te extinguir
Cuidado com a hora
Cuidado, ela não perdoa
Cuida mulher, enquanto é tempo
Cuida.
Cuida.
Cuida de ser mulher.
Mas cuidado!
Credo
Me perguntaram se o que eu faço tem nome
Eu não sou uma palavra
A letra que me compõe já é sadia
Imperfeita, mas ainda solta
Digna de me chamar de mim.
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Chuva
Olhando a chuva, cada gota que cai, vou me perdendo em seu teor gradativo de vida, e de morte; é ela quem nasce, vive e morre – tão instantaneamente foi-se quanto veio – a gota. E eu ali, diante de todas elas, a espreitar.
E a vida segue intacta, tanto quanto pôde reconhecer em sua existência. Também ela nasce e cai, e morre. E eu permaneço ali, como figura incauta, perene em sentimentos, a inda a espreitar.
Ora, bastaria sentir! E uma só, das tantas gotas, almejaria o céu para todo o sempre. Bastaria sentir...
E vós? Ignorantes, seres capazes, porém insossos! São tantos os que correm da chuva! E não reconhecem o princípio de todas as coisas, presente cercado do teor transparente que é aquela lágrima que perdura incessante, diluindo o céu.
Vai, vai e corre! Continue incrédulo diante da chuva! Não pare, não veja, não sinta! E em breve, serás também tu, só mais uma gota no mundo, ou só mais uma lágrima no sal da Terra, imensa, que gira e gira, e não faz nada além de chover.
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Saudações
Quem acaso está a ler estas linhas? Os motivos, os caminhos, as verdades, não sei; mas creia caro leitor, que se me permite apenas o sussurro, te acarreto o resto, e tudo o mais que vier a cabeça.
Cá estou, alma espavorida, assustada, inerte, sedenta de compreensão. Só me sonda o acalento da palavra. Dá-me tua mão apenas, é o que te peço ― agora ― e te conduzirei para dentro de um sem-fim, sem-tempo, intento ou noção. Aqui, o que perdura é a palavra, que escrita, não dita, é antes, a dádiva que agora compartilho.
Bem-Vindo (a) sinta-se a vontade. Afinal, a incredulidade humana pede passagem. Mas aviso-te de antemão: Tudo o que verás, seja força ou seja hábito, é antes de tudo, canção, doce e transparente. É a batida das horas, é o sopro do vento, é o orvalho crepitando como chama quando amanheço.
Perdoe-me se de imediato orno a palavra; é que ela é o meu céu, o meu caos, o meu tudo. Eu que quero ser... Porque o meu estar já não me comporta.
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