segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Chuva

Olhando a chuva, cada gota que cai, vou me perdendo em seu teor gradativo de vida, e de morte; é ela quem nasce, vive e morre – tão instantaneamente foi-se quanto veio – a gota. E eu ali, diante de todas elas, a espreitar.
E a vida segue intacta, tanto quanto pôde reconhecer em sua existência. Também ela nasce e cai, e morre. E eu permaneço ali, como figura incauta, perene em sentimentos, a inda a espreitar.
Ora, bastaria sentir! E uma só, das tantas gotas, almejaria o céu para todo o sempre. Bastaria sentir...
E vós? Ignorantes, seres capazes, porém insossos! São tantos os que correm da chuva! E não reconhecem o princípio de todas as coisas, presente cercado do teor transparente que é aquela lágrima que perdura incessante, diluindo o céu.
Vai, vai e corre! Continue incrédulo diante da chuva! Não pare, não veja, não sinta! E em breve, serás também tu, só mais uma gota no mundo, ou só mais uma lágrima no sal da Terra, imensa, que gira e gira, e não faz nada além de chover.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Saudações


                Quem acaso está a ler estas linhas? Os motivos, os caminhos, as verdades, não sei; mas creia caro leitor, que se me permite apenas o sussurro, te acarreto o resto, e tudo o mais que vier a cabeça.
                Cá estou, alma espavorida, assustada, inerte, sedenta de compreensão. Só me sonda o acalento da palavra. Dá-me tua mão apenas, é o que te peço ― agora ― e te conduzirei para dentro de um sem-fim, sem-tempo, intento ou noção. Aqui, o que perdura é a palavra, que escrita, não dita, é antes, a dádiva que agora compartilho.
                Bem-Vindo (a) sinta-se a vontade. Afinal, a incredulidade humana pede passagem. Mas aviso-te de antemão: Tudo o que verás, seja força ou seja hábito, é antes de tudo, canção, doce e  transparente. É a batida das horas, é o sopro do vento, é o orvalho crepitando como chama quando amanheço.
                Perdoe-me se de imediato orno a palavra; é que ela é o meu céu, o meu caos, o meu tudo. Eu que quero ser... Porque o meu estar já não me comporta.