domingo, 28 de novembro de 2010

Alma

Enquanto a noite espreitava meu ser
O céu condizia atento ao meu clarão e meu suspiro
Meu corpo se desfalecia a cada palavra
E o arrepio que se findava em mim
Transpunha a imensidão da madrugada

A voz era o sopro
E o sopro me fazia canção o querer e o estar daquela hora
E se eu fosse aquela voz
Eu pairava sobre mim
Como ponto de partida sem chegada

Como água furtiva
Ou sal, essência e vontade – melodia
Alma. Calma. Alma.

Corpo Fechado

Sim! O meu viver é contentamento
E minhas horas são diretrizes sagradas de compaixão
Meu suor é o lamento uniforme que exaspera o vento
Enquanto minhas palavras... Estas são vivas e fortes fora de mim!
E meu corpo, a foice de sentimentos adornados de caos
A mente conturbada de cinzas, singela... Perfeita mortal
Os ossos, a cal marmórea da palavra
Os membros, partes delgadas alheias de mim
Enquanto meu sopro – Espírito, tácito, humano, real
Será em mim como eu nele, a carne viva e sagrada das esperas.
Os olhos, eles são dignos de tocar-me a rigidez do corpo
As pálpebras se abrem, compartidas e serenas
As unhas, os pelos... A boca
Nua, crua, exuberante de alegria num regozijo torturador!
O seio, o peito, a pele, as costas...
Ambos seres de vida e morte dentro de mim
Visíveis, estáticos... Imparcial!
Meu corpo,
Fechado;

Meu ser,
Recolhido;

Meu viver,
Mordaz;

Meu sabor,
Inodoro;

Meu calor...
Dentre tantos, a palavra.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A ti mulher, cuidado!

Cuidado mulher
Cuida de tua roupa

Cuida de tua coxa
Cuida de tua mão

Cuida, pois o mundo é louco
E o teu cuidado já é auto perdão

Cuida do cabelo
Cuida da pele adormecida

Cuida mulher do ventre rasgado
Pois o ser contrário te fere

Cuida para que não cuide a ferida
Cuida mulher

Porque de ti vem o calor
E o veneno

Cuidado mulher.
Cuidado.

Cuida mulher, do sopro.
Cuida da vida

Cuida da fera e da palavra
Cuida da fogueira que há em ti

Cuidado com a véspera
Ela pode te extinguir

Cuidado com a hora
Cuidado, ela não perdoa

Cuida mulher, enquanto é tempo
Cuida.
Cuida.
Cuida de ser mulher.
Mas cuidado!

Credo

Me perguntaram se o que eu faço tem nome
Eu não sou uma palavra
A letra que me compõe já é sadia
Imperfeita, mas ainda solta
Digna de me chamar de mim.